quarta-feira, janeiro 25, 2017

Será que um dia eu retorno?

Escrevo essas linhas enquanto no Brasil, a passeio.

 Há 18 anos eu fui para NY com o intuito de ficar um tempo. Estudar Inglês era a meta, mas eu não fui ingênua em pensar que o aprendizado de vida não viria a superar o meu propósito, ou pretexto, inicial. E assim o foi.


Ter nascido e crescido no Brasil foi para mim um privilégio feliz, uma sorte astral, um presente geográfico! Para quem viaja e gosta de explorar lugares extrapolando hotéis e guias turísticos, não fica difícil perceber como nos distinguimos de muitas outras culturas. Temos tanto, somos tanto… fartura, curiosidade, criatividade, carinho, carisma, simpatia, empatia, musicalidade, senso de humor, inteligência, belezas naturais, poesia e apesar de tantos problemas, temos fé.


Dessa maneira, disseminando brasilidade, cheguei em NY, cheia de sorriso e Tom Jobim. Mas num erro de cálculo emocional, acabei me perdendo, ou me encontrando de amor por Gottan City. A aventura que a priori duraria 6 meses, foi se estendendo.


São vários os motivos que me fazem uma confessa apaixonada por essa cidade. Seu ritmo frenético, gente do mundo inteiro, museus, criatividade em abundância. Pessoas tentando, outras conseguindo, música de rua, música de metrô, de casas de show, Jazz!!!! Comida para qualquer gosto e disposição de tempo ou bolso. Lugar onde o inusitado várias vezes é tratado como blasé, perfil blasé, artigo intelectual. Se anda por todo lado, pega-se metrô com o Prefeito milionário, encontra artistas no parque, tão normal!! Me lembro uma vez quando eu nadava na piscina do prédio onde morava. Eu adorava quando essa outra nadadora que eu não conhecia chegava. Ela era rápida e eu acabava nadando mais rápido… Um dia, já no banheiro, as duas peladas, eu descobri que era a Nicole Kidman. Não, não tirei foto.


Amo ainda as deliciosas caminhadas no West Village, o outono e primavera no Central Park, o meu Café Francês preferido no Chelsea, bairro onde moro, passear no HighLine quando ele abre, ainda vazio, e muito mais.

Mas a narrativa poética de ocular positiva ignora e substrai as várias outras facetas e perdas na busca mundo afora, por respostas existenciais que nos mantém vivos. Quando alguém decide abraçar o mundo e se mudar para fora, não se pode desprezar o outro lado da moeda.

Ouvi uma vez que quem migra, se torna estrangeiro em dois lugares ao mesmo tempo. Eu prefiro argumentar que o processo é agregativo e não divisor, mas na verdade, a premissa também não deixa de ser verdade.

Quando a distância entre você e sua família nuclear requer passaporte, planejamento e escala(s), nada é tão simples. Quando não se pode pegar o carro e subir a serra, aproveitar aquela promoção aérea relâmpago do fim de semana ou aparecer de surpresa na festinha de família, a pressão é bem maior.

Uns dois anos atrás, eu recebi em minha casa amigos brasileiros que visitavam. Amigos privilegiados, bem articulados, que se envolvem, por opção, em projetos sociais e políticos. Entre goles e acordes, um deles me olhou profundamente nos olhos e perguntou: Por que? Eu perdi um pouco equilíbrio pois sabia exatamente o que ele perguntava. Ele continuou sugerindo que eu havia desistido do Brasil, que eu podia agregar voltando, que isso e aquilo… Meu coração gelou, não sabia se recebia aquilo como elogio (agregar?) ou ofensa.


 A minha reação emocional revelou que o assunto era para mim sensível e merecia comtemplação e trabalho, mas minha resposta instintiva, me ajuda até hoje. Eu olhei com a mesma intensidade nos olhos dele e disse: Mas querido, eu nunca desisti… Eu nunca saí fugindo, rejeitando ou negando minhas origens. Eu não “briguei” com o Brasil. Ao contrário, me vejo sempre carregando com paixão o que temos de melhor e esclarecendo a profundidade eclética da nossa cultura em sua maioria estereotipada no exterior. Meu processo migratório não é tão preto no branco, mesmo porque eu nunca planejei ficar. Eu fui ficando!


Então é preciso entender... Nem todo mundo que sai do Brasil, o faz pelo mesmo motivo. Cada pessoa tem uma história. De longe, essas escolhas podem parecer padrão, mas de perto, a narrativa em detalhe é bem mais rica e diversificada. Uns procuram sim, uma vida melhor, mais justa, segurança, novas possibilidades, outros buscam experiências e expansão cultural. Uns se decepcionam outros se surpreendem. Uns vão ficando por amor, comodidade ou oportunidades, outros voltam pra casa por saudade, doença de um ente amado ou cansaço.


Confesso que por mim, eu continuaria peregrinando. Desde pequena, o novo me fascina. Em casa, eu era motivo de piada quando voltada comendo com palitinho depois de passar o dia com nossos amigos japoneses, e com a mão quando os amigos eram indianos.


 Dessa maneira, disseminando brasilidade, cheguei em NY, cheia de sorriso e Tom Jobim. Mas num erro de cálculo emocional, acabei me perdendo, ou me encontrando de amor por Gottan City. A aventura que a priori duraria 6 meses, foi se estendendo.

NY no momento ainda é uma escolha prática. Lá, eu me sinto em casa! Não estou tão perto, mas também não é a Austrália. Venho para o Brasil muitas vezes ao ano, porém também me dou ao luxo de um fim de semana em Paris…

Será que um dia eu retorno? Admito que não sei. Mas independente disso, continuarei sim, brasileira com orgulho, votando, voltando e sempre porta-voz dessa nossa felicidade inerente.

Por +Ana Paula Cota
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